domingo, 19 de junho de 2011

A Ironia. Mocinha ou vilã?


Não acredito em coincidências. Eis que dias atrás houve um pequeno debate no orkut acerca da ironia. Um amigo entrou numa comunidade que defendia o uso da ironia. Uma outra amiga acabou por confessar que não via com bons olhos o uso dessa figura de pensamento.

Eu particularmente adoro. Claro, tudo que é demais enjoa. Ou irrita. Mas a ironia bem empregada tem o seu charme. E sua eficiência. Até Padre Antônio Vieira fez uso da santa ironia.

Ironia vem do grego eironéia que significa dissimulação. É a arte de dizer uma coisa para se dizer exatamente o oposto. Deixando por vezes uma leve crítica no ar. Subentendida. Tentativa de constratar a Aparência com a Realidade. É como se o locutor da frase testasse os conhecimentos do interlocutor. Do tipo: "Vamos ver se ele é bom mesmo?"

O autor que escreve espera que sejamos capazes de notar essa ironia¹ .O que nem sempre acontece. Principalmente em textos mais antigos. E mais: fora do contexto.
Ler os Sermões de Pe. Vieira sem antes passear pela sua época é como ler uma frase descontextualizada. É como ler uma charge dos anos 80. Precisamos do contexto. E de um mínimo conhecimento de mundo. Ao se ler às cegas o Sermão aos Peixes é quase regra boiar no oceano do não entendimento. Oras bolas, que polvo é esse de que o padre fala?

Machado de Assis foi mister em usar da ironia em seus textos.
""A providência, em seus inescrutáveis desígnios, tinha assentado dar a esta cidade um benefício grande; e nenhum lhe pareceu maior nem melhor do que certo gozo superfino, espiritual e grave, que patenteasse a brandura de nossos costumes e a graça de nossas maneiras: deu-nos os touros."
Gozo superfino das touradas??? Gozo espiritual? Benefício grande?
Ou ainda no conto Parasita Azul: "Soares olhava para Camilo com a mesma ternura que um gavião espreita uma pomba".  Neste caso a ironia é mais explícita.

Creio que uma maneira de deixar a ironia mais aparente e assim evitar maus entendidos é colocar a palavra que remete à ironia entre aspas. Funciona no meio cibernético. E evita futuras discussões. Ao menos nas páginas pessoais e fóruns de discussões.


¹ Às vezes eu acho que alguns autores tem um prazer cruel em não serem entendidos. Exigindo que o leitor releia o trecho várias e várias vezes.

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