sábado, 3 de dezembro de 2011

Namore uma garota que lê

 NAMORE UMA GAROTA QUE LÊ

Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.

Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.

Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criador pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.

Compre para ela outra xícara de café.

Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.

É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade, mas juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.

É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance e diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.

Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.

Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.

Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.

Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.

Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.

Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.

Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.

Texto original: Date a girl who reads – Rosemary Urquico
Tradução e adaptação – Gabriela Ventura
La lectrice (A leitora)
óleo de Jean-Honré Fragonard
1770_1772

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Reforma Ortográfica por Cynthia Feitosa

Eis aqui um programa de cinco anos para resolver o problema da falta de autoconfiança do brasileiro na sua capacidade gramatical e ortográfica (além dos ignorantes, também vai servir pra aqueles que escrevem aquela língua horrível da internet...).

Em vez de melhorar o ensino, vamos facilitar as coisas, afinal, o português é difícil demais mesmo. Para não assustar os poucos que sabem escrever, nem deixar mais confusos os que ainda tentam acertar, faremos tudo de forma gradual.

No primeiro ano, o "Ç" vai substituir o "S" e o "C" sibilantes, e o "Z" o "S" suave. Peçoas que açeçam a internet com freqüênçia vão adorar, prinçipalmente os adoleçentes. O "C" duro e o "QU" em que o "U" não é pronunçiado çerão trokados pelo "K", já ke o çom é ekivalente. Iço deve akabar kom a konfuzão, e os teklados de komputador terão uma tekla a menos, olha çó ke koiza prátika e ekonômika.

Haverá um aumento do entuziasmo por parte do públiko no çegundo ano, kuando o problemátiko "H" mudo e todos os acentos, inkluzive o til, seraum eliminados. O "CH" çera çimplifikado para "X" e o "LH" pra "LI" ke da no mesmo e e mais façil. Iço fara kom ke palavras como "onra" fikem 20% mais kurtas e akabara kom o problema de çaber komo çe eskreve xuxu, xa e xatiçe. Da mesma forma, o "G" ço çera uzado kuando o çom for komo em "gordo", e çem o "U" porke naum çera preçizo, ja ke kuando o çom for igual ao de "G" em "tigela", uza-çe o "J" pra façilitar ainda mais a vida da jente.

No terçeiro ano, a açeitaçaum publika da nova ortografia devera atinjir o estajio em ke mudanças mais komplikadas serão poçiveis.O governo vai enkorajar a remoçaum de letras dobradas que alem de desneçeçarias çempre foraum um problema terivel para as peçoas, que akabam fikando kom teror de soletrar. Alem diço, todos konkordaum ke os çinais de pontuaçaum komo virgulas doispontos aspas e traveçaum tambem çaum difíçeis de uzar e preçizam kair e olia falando çerio já vaum tarde.

No kuarto ano todas as peçoas já çeraum reçeptivas a koizas komo a eliminaçaum do plural nos adjetivo e nos substantivo e a unificaçaum do U nas palavra toda ke termina kom L como fuziu xakau ou kriminau ja ke afinau a jente fala tudo iguau e açim fika mais faciu. Os karioka talvez naum gostem de akabar com os plurau porke eles gosta de eskrever xxx nos finau das palavra mas vaum akabar entendendo. Os paulista vaum adorar. Os goiano vaum kerer aproveitar pra akabar com o D nos jerundio mas ai tambem ja e eskuliambaçaum.

No kinto ano akaba a ipokrizia de çe kolokar R no finau dakelas palavra no infinitivo ja ke ningem fala mesmo e tambem U ou I no meio das palavra ke ningem pronunçia komo por exemplo roba toca e enjenhero e de uzar O ou E em palavra ke todo mundo pronunçia como U ou I, i ai im vez di çi iskreve pur ezemplu kem ker falar kom ele vamu iskreve kem ke fala kum eli ki e muito milio çertu ? os çinau di interogaçaum i di isklamaçaum kontinuam pra jente çabe kuandu algem ta fazendu uma pergunta ou ta isclamandu ou gritandu kom a jenti e o pontu pra jenti sabe kuandu a fraze akabo. Naum vai te mais problema ningem vai te mais eça barera pra çua açençaum çoçiau e çegurança pçikolojika todu mundu vai iskreve sempri çertu i çi intende muitu melio i di forma mais façiu e finaumenti todu mundu no Braziu vai çabe iskreve direitu, ate us jornalista, us publiçitario, us adivogado, ate us pulitiko i u prezidenti! Olia ço ki maravilia.

A autora é Cynthia Feitosa e foi publicado originalmente no blog CynCity. Este post foi publicado originalmente em 05/12/05.

sábado, 13 de agosto de 2011

Exemplo que poderia ser copiado

Hoje, sábado dia 13, estava assistindo a um jornal televisivo quando me deparei com uma matéria falando sobre a cobrança que algumas torcidas organizadas vêm protagonizando para cobrar o bom desempenho de alguns jogadores em campo. E que o bom desempenho de Ronaldinho Gaúcho no jogo contra o Santos se deve a isso. Alguns torcedores fanáticos acabaram aderindo à vigília desses jogadores. Claro, sob alguns protestos embasados em lei. Mas que parece que tem dado certo. E como tudo na vida isso deve ser mediado com bom senso e sem violência.
Só que tal atitude me fez refletir.
E se começássemos um movimento semelhante?
Criaríamos uma torcida organizada a favor do cidadão. Mas em vez de acompanhar jogadores de futebol acompanhássemos nossos políticos e suas andanças, gastanças, façanhas e, sobretudo: suas participações realmente políticas.
E além de acompanhá-los também cobrássemos posições e posturas. E atitudes!
Acho que o resultado disso seria igualmente positivo.

Quem começa o jogo?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Que se exploda. Que se expluda.




Verbos defectivos são aqueles que não apresentam todas as suas formas conjugadas.
Creio que todo cristão já tenha se deparado com algum em sua vida.
"Eu descoloro os pelinhos da perna".
Que deve ser alterado para algo como: "Eu uso descolorante nos pelinhos da perna".

Sabemos que a televisão é mister em divulgar bordões, e até termos errôneos que se perpetuam por toda a sociedade, fazendo de nós todos presas fáceis.

Um exemplo disso é o bordão "QUE SE EXPLODA" usado pelo personagem Justo Veríssimo de Chico Anysio.
Surgiu daí o "eu explodo".
Seguiram os mesmos rastros os verbos: eclodir, implodir e erodir.

Os dicionários não são unânimes quanto a torná-los ou não verbos regulares.

Os gramáticos mais modernosos preveem a regularização dos verbos.

Então se você sentir a necessidade de dizer:
- Eu explodo!
Pode dizer em alto e bom som, pois estará embasado em teorias gramaticais mais modernas.

Aguardo o dia em que "eu descoloro" poderá ser pensado e dito sem medo.


Falando em modernidades da língua, o dicionário VOLP de 2009 já registra duas formas de uma mesma palavra graças ao uso despreocupado, tanto da forma correta quanto da forma coloquial.

TERRAPLENAGEM X TERRAPLANAGEM.

A palavra original é terraplenagem, mas devido ao constante uso de sua variação esta foi incluída ao nosso vocabulário padrão.


Um brinde!


Adaptado de
Revista Língua nº 69
e http://www.brasilescola.com/gramatica/a-consagracao-forma-exploda.htm

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A educação no Brasil serve pra que?

Mas a educação aqui no Brasil pra que serve?
Porque o que é incontestável é que o curso primário não desalfabetiza, o secundário não humaniza, e o superior nem faz profissionais, nem faz sábios, nem faz pesquisadores.

Oswald de Andrade

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Papos - Luís Fernando Veríssimo

- Me disseram...
- Disseram-me.
- Hein?
- O correto é "disseram-me". Não "me disseram".
- Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é "digo-te"?
- O quê?
- Digo-te que você...
- O "te" e o "você" não combinam.
- Lhe digo?
- Também não. O que você ia me dizer?
- Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
- Partir-te a cara.
- Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
- É para o seu bem.
- Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...
- O quê?
- O mato.
- Que mato?
- Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
- Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo e elitismo!
- Se você prefere falar errado...
- Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?
- No caso... não sei.
- Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
- Esquece.
- Não. Como "esquece"? Você prefere falar errado? E o certo é "esquece" ou "esqueça"? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
- Depende.
- Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
- Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
- Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
- Por que?
- Porque, com todo este papo, esqueci-lo.

Fonte:VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p.65.
 
 
Questões: 
Esse texto de Luis Fernando Veríssimo trata, de forma humorística, da adequação ou não, por parte dos falantes, no uso da colocação pronominal. Qual parece ser a intenção do cronista ao tratar desse assunto?

Quando um dos interlocutores do texto afirma que é “disseram-me” e não “me disseram”, está fazendo referência a uma das regras da gramática normativa para a colocação pronominal.
De que regra trata a correção feita no texto?
Em uma conversa informal, como é o caso do texto transcrito, essa correção é adequada? Justifique sua resposta.

Quando um dos interlocutores afirma que “pronome no lugar certo é elitismo”, traz à tona uma interessante discussão sobre o uso da colocação pronominal segundo as regras da norma culta. Na sua opinião, que relação existe entre norma culta e elitismo?


Fonte Adaptada: ABAURRE, PONTARA, FADEL. Português – Língua, literatura, produção de texto. Vol 2, Ed. Moderna, p. 140.
 
 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Escrever (apenas) dentro das normas realmente é o mais importante?

A mais burra e menos criativa das gerações


Gilberto Dimenstein (2008a),  jornalista atento às questões que envolvem a educação brasileira, comenta o fato de o mercado de trabalho exigir candidatos com competências que extrapolem os conhecimentos básicos da área, ou seja, profissionais que saibam propor saídas e demonstrem criatividade na resolução dos problemas. Segundo informa, no ano de 2007, empresas como Microsoft, Natura e Unilever não preencheram as 2.500 vagas de estágio disputadas por  87.000 universitários ou recém-formados, motivadas principalmente pela dificuldade que apresentaram em expor criativamente uma ideia e não pelo fato de não saberem escrever corretamente um texto segundo as normas gramaticais do idioma. E, explicitando que na visão da psicóloga responsável pela aplicação dos testes em 2007 o maior responsável por essa inadequação seria a ação nociva da internet, cita o livro A mais burra das gerações: como a era digital está emburrecendo os jovens americanos e ameaçando nosso futuro, do norte-americano Mark Bauerlein, cuja tese central é a de que as tecnologias digitais permitem que os jovens passem ainda mais horas do dia trocando informações com seus pares, o que, consequentemente, diminui o tempo de intermediação com os adultos (# ou com pessoas que saibam mais e melhor) nos processos de aprendizagem.
Fonte: Educativa , Goiânia, v. 12, n. 2, p. 265-277, jul./dez. 2009.


# frase minha.

Fica então uma proposta de reflexão.

sábado, 9 de julho de 2011

Os escritores e a Gramática I



Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
...
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Paulo Leminski, "O assassino era o escriba" in Caprichos & Relaxos, 1982


... qualquer classificação é opressora... toda a superfície do discurso ... é regida por uma rede de regras, de contingências, de opressões, de repressões mais ou menos pesadas ao nível da retórica, sutis e excessivas ao nível da gramática...
Roland Barthes, Lição, 1978


Pronominais*
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Oswald de Andrade, Pau Brasil, 1925
* O poeta canibal continua devorando os modernos e contemporâneos. Este seu poema faz pensar nas celeumas recentemente criadas em torno do livro do MEC sobre o ensino da nossa língua.

Homenageado da FLIP 2011, o poeta que funda a nossa modernidade foi assim lido por Antonio Cândido, ontem em Parati: "
Era um homem que tinha traços de gênio." Além de genial, Oswald é bastante sintático e afetivo. Como demonstra o Serafim Ponte-Grande: "Perdeu a sintaxe do coração e as calças."


Os adjetivos passam, e os substantivos ficam.
Machado de Assis, "Balas de Estalo" in Gazeta de Notícias,Rio de Janeiro, 1885

segunda-feira, 4 de julho de 2011

As histórias que contamos para saber quem somos

A cidade das palavras - Alberto Manguel
As histórias que contamos para saber quem somos


Ao longo de cinco capítulos, a obra propõe uma reflexão acerca das razões pelas quais somos movidos pela inevitável necessidade de ler e contar histórias e de como essas histórias nos ajudam a perceber nós mesmos e os outros.
Partindo da premissa de que a linguagem, a ficção e a literatura exercem papel decisivo na experiência humana, o autor resgata obras do passado e do presente na busca de definições de identidade nas palavras e do papel do contador de histórias nesse processo, determinando, delimitando e ampliando nossa imaginação do mundo.
Em sua investigação, Manguel relembra o mito de Cassandra, sacerdotisa grega a quem Apolo concedeu o dom da profecia, na condição de que ninguém jamais acreditasse em suas palavras. Evoca, ainda, as origens da escrita e das lendas, resgatando outras histórias.
Alberto Manguel afirma que a linguagem é nosso denominador comum e o que nos permite impor alguma ordem ao mundo; confere existência à realidade, constituindo um ato de evocação por meio de palavras e por meio daquelas versões dos acontecimentos reais conhecidas como histórias.
Segundo o autor, as histórias são a nossa memória, as bibliotecas são os depósitos dessa memória e a leitura é o ofício por meio do qual podemos recriar essa memória, transportando-a ou traduzindo-a para nossa própria experiência e permitindo-nos construir sobre os alicerces do que as gerações passadas quiseram preservar. Nesse sentido, as histórias não são contadas apenas por quem fala ou escreve, mas também por quem as ouve ou as lê.
A cidade das palavras sugere que essas histórias – e as leituras que delas fazemos, individual ou coletivamente – nos proporcionam tanto a liberdade de pensamento como a liberdade de expressão, dando-nos a possibilidade de constituirmos nossas identidades e de traduzirmos, nas palavras da literatura, o melhor do nosso esforço para imaginar a vida em comum em meio ao cenário multifacetado do século XXI.

Informações sobre Alberto Manguel e sua obra podem ser obtidas no website oficial do autor (http://www.alberto.manguel.com/) e em entrevista disponível no endereço

Texto retirado do Caderno de Leitura da UPF - 2011

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Lord Byron

Dizer que Lord Byron levou uma vida de excessos é pintar sua biografia de cor-de-rosa.

Libertino exemplar do século XVIII, George Gordon Byron "oferecia perigo".

Ainda que gostasse mais de mulheres, a prudência recomendava que um homem nunca desse as costas a ele.

Poeta que influenciou várias gerações, orador político brilhante. Desde cedo empunhou sua arma do prazer.
Aos sete anos já brincava de médico com as primas. Aos dez anos conheceu Mary Chaworth, três anos mais velha, e teve com ela sua primeira relação sexual. Nessa época, a herança de um tio-avô tirou-o da pobreza e o devolveu à nobreza - seus antepassados lambiam as botas de Henrique VII.
Em sua nova casa teve uma governanta que na hora de adormecê-lo acabava por "instigar" ainda mais o mancebo.

Na adolescência, interessou-se por rapazes e teve de viajar para o exterior a fim de evitar a forca.
Com vinte anos, na Grécia, tentou comprar Teresa Makri, uma menina de doze anos pela qual pagaria 400 libras esterlinas. Pedido negado pelos pais, Byron voltou para a Inglaterra, assumiu um posto na Câmara de Londres e seduziu a esposa do primeiro-ministro William Lamb, Caroline.
A moça se apaixonou, mas foi ignorada e enlouqueceu quando soube que Lord Byron se casaria com a prima dela, Isabella Milbanke. O casamento durou pouco. O Lord não satisfeito engravidara a meia-irmã, Augusta Leigh, sendo posteriormente acusado de incesto.

Com escândalos demais na ficha, deixou a Inglaterra em 1816. Na Suíça, ficou amigo da escritora Mary Shelley e reviveu um antigo affair, Claire Clairmont. Seguiu depois para Veneza, onde seduziu entre outras e outros, Mariana Segatti, Margarida Cogni e Condessa Guiccioli.

Aventureiro, comprou um navio para ajudar os gregos na luta contra os turcos. Mas nem chegou a guerrear.
Adoeceu e morreu em 1824. Um pouco antes entregou uma auto biografia a seu editor, John Murray, que, consternado com o que leu, queimou.

Se o que sabemos é contado pelos outros, imagine o que saberíamos se sua própria história fosse publicada.

Texto baseado no texto de Edgard Reymann


O ódio é o prazer mais duradouro; os homens amam com pressa, mas odeiam com calma.
                                                                                                                     Lord Byron


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Indicações de Livros

Todos já sabem, ou deveriam saber, que a língua não é algo exato como a matemática, a física ou a química. Ela é passível de várias manipulações (no bom ou no mau sentido) e de interpretações. E isso não é totalmente um desmérito. Eu pelo menos não acho.

O professor Leo Ricino sugere algumas obras de grande valia no estudo da língua portuguesa.


TítuloAutorEditora
1MANUAL DA REDAÇÃO PROFISSIONALJosé Maria da CostaMillennium
2DICIONÁRIO DE DIFICULDADES DA LÍNGUA PORTUGUESADomingos Paschoal CegallaNova Fronteira
3GLOSSÁRIO DAS DIFICULDADES SINTÁTICASZélio dos Santos JotaFundo de Cultura
4DICIONÁRIO DE QUESTÕES VERNÁCULASNapoleão Mendes de AlmeidaCaminho Suave
5ERROS E DÚVIDAS DE LINGUAGEMVitório BergoFreitas Bastos
6DICIONÁRIO DE DIFICULDADES DA LÍNGUA PORTUGUESAVasco Botelho do AmaralEducação Nacional
7GRANDE COLEÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESAAires da Mata FilhoEdinal
8QUESTÕES PRÁTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESAArnaldo NiskierConsultor
9NA PONTA DA LÍNGUAArnaldo NiskierCIEE*
10TIRA-DÚVIDAS DE PORTUGUÊSLuiz A. P. VictóriaEdiouro
1170 SEGREDOS DA LÍNGUA PORTUGUESASalomão SerebrenickBlock Editores
12NÃO ERRE MAISLuiz Antonio Sacconi e CiaBlock Editores
13CEM ERROS QUE UM EXECUTIVO COMETE AO REDIGIR (mas não poderia cometer)Laurinda GrionEdicta
141001 DÚVIDAS DE PORTUGUÊSJosé de Nicola e Ernâni TerraSaraiva
15TIRANDO DÚVIDA DE PORTUGUÊSOdilon Soares Leme
16DICIONÁRIO DE DIFICULDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA E REGÊNCIA VERBALArtur de Almeida TorresFGV
17ATRAVÉS DO DICIONÁRIO E DA GRAMÁTICAMário BarretoPresença
18DICIONÁRIO ESCOLAR DAS DIFICULDADES DA LÍNGUA PORTUGUESACândido Jucá FilhoFENAME



Bons Estudos!

domingo, 19 de junho de 2011

A Ironia. Mocinha ou vilã?


Não acredito em coincidências. Eis que dias atrás houve um pequeno debate no orkut acerca da ironia. Um amigo entrou numa comunidade que defendia o uso da ironia. Uma outra amiga acabou por confessar que não via com bons olhos o uso dessa figura de pensamento.

Eu particularmente adoro. Claro, tudo que é demais enjoa. Ou irrita. Mas a ironia bem empregada tem o seu charme. E sua eficiência. Até Padre Antônio Vieira fez uso da santa ironia.

Ironia vem do grego eironéia que significa dissimulação. É a arte de dizer uma coisa para se dizer exatamente o oposto. Deixando por vezes uma leve crítica no ar. Subentendida. Tentativa de constratar a Aparência com a Realidade. É como se o locutor da frase testasse os conhecimentos do interlocutor. Do tipo: "Vamos ver se ele é bom mesmo?"

O autor que escreve espera que sejamos capazes de notar essa ironia¹ .O que nem sempre acontece. Principalmente em textos mais antigos. E mais: fora do contexto.
Ler os Sermões de Pe. Vieira sem antes passear pela sua época é como ler uma frase descontextualizada. É como ler uma charge dos anos 80. Precisamos do contexto. E de um mínimo conhecimento de mundo. Ao se ler às cegas o Sermão aos Peixes é quase regra boiar no oceano do não entendimento. Oras bolas, que polvo é esse de que o padre fala?

Machado de Assis foi mister em usar da ironia em seus textos.
""A providência, em seus inescrutáveis desígnios, tinha assentado dar a esta cidade um benefício grande; e nenhum lhe pareceu maior nem melhor do que certo gozo superfino, espiritual e grave, que patenteasse a brandura de nossos costumes e a graça de nossas maneiras: deu-nos os touros."
Gozo superfino das touradas??? Gozo espiritual? Benefício grande?
Ou ainda no conto Parasita Azul: "Soares olhava para Camilo com a mesma ternura que um gavião espreita uma pomba".  Neste caso a ironia é mais explícita.

Creio que uma maneira de deixar a ironia mais aparente e assim evitar maus entendidos é colocar a palavra que remete à ironia entre aspas. Funciona no meio cibernético. E evita futuras discussões. Ao menos nas páginas pessoais e fóruns de discussões.


¹ Às vezes eu acho que alguns autores tem um prazer cruel em não serem entendidos. Exigindo que o leitor releia o trecho várias e várias vezes.

sábado, 18 de junho de 2011

Kkkkkkk no dicionário. Será?

O riso por escrito

Deixando os conservadores de cabelos em pé, os que restam, é claro, as grafias que "traduzem" o riso para a tela do computador  foram parar no dicionário. Algumas grafias na verdade. Mas já é um começo.

O "hahahahaha", "hihihi", "kkkkkkk", "hehehehehe", "rssss", dentre outros podem ser incorporados num futuro próximo aos nossos dicionários.

Por enquanto apenas o dicionário britânico incluiu alguns desses grafismos:
LOL - sigla de "laughing out loud" significando rindo em alto e bom som. [Aposto que isso pouca gente sabia].
OMG - "Oh my God" significando ... ter certeza que preciso colocar a tradução aqui?? rss

Eu sou favorável a essa medida. Até algumas onomatopeias ganharam um lugar no dicionário. O que impediria os grafismos?


Baseado na matéria do Estadão.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

JUDEU MACHADIANO *

Wood Allen elege Memórias Póstumas de Brás Cubas um dos cinco livros que mais influenciaram sua carreira.

Quem diria que o cineasta norte-americano Wood Allen, autor de vários clássicos e de vários filmes acabaria por reconhecer a genialidade de Machado de Assis?

Em depoimento ao jornal inglês The Guardian no mês passado, Allen elegeu Memórias Póstuma de Brás Cubas (1881) um dos cinco livros mais impactantes de sua carreira como diretor e comediante.

Não foi o primeiro elogio ao nosso Bruxo do Cosme Velho. Em 2009 já havia externado sua admiração à impreensa brasileira.

Confessou também que só leu o livro, enviado anonimamente por um brasileiro, porque era fino. Se fosse grosso não o leria.
"Fiquei chocado com o quão charmoso e interessante era o livro. Não pude acreditar que ele viveu há tanto tempo. Você poderia pensar que ele viveu ontem. É tão moderno e interessante."



Texto adaptado da Revista Língua, nº 68, pg.31



quinta-feira, 16 de junho de 2011

O gigolô das palavras

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão !”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover… Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.
Luís Fernando Veríssimo

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Aí está. Um texto muito bom para se trabalhar com os alunos. Em especial os alunos do Ensino Médio. 

"Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis."
Para o aluno quais seriam as regras que deveriam ser respeitadas? E quais poderiam ser abolidas?

Este é um ponto de partida interessante. Eu mesma vivo a me fazer essas perguntas.

Professora é espancada por mãe de aluno

Como diria aquele jornalista: “Isto é uma vergonha”!

Uma professora de biologia de 58 anos foi espancada pela mãe de um aluno de 12 anos dentro da Escola Estadual David Nasser, no Jardim Macedônia, no Capão Redondo (zona sul de SP), anteontem. A mulher teve ferimentos no olho e na cabeça, após receber socos e pontapés. A agressora responderá em liberdade por lesão corporal.

A agressão aconteceu após a professora Genoveva de Araújo Soares levar o aluno para diretoria por mau comportamento em sala de aula. Segundo ela, com medo da reação dos parentes, o menino inventou para a mãe que havia sido agredido pela professora. "Ela me pegou pelos cabelos e começou a esmurrar e falar que eu havia batido nele, sem dar tempo para ninguém que estava próximo conseguisse apartar", contou.

Enquanto a professora apanhava, dois homens da família da agressora formaram um círculo ao redor da vítima para impedir que ninguém interrompesse. O espancamento só parou porque um professor salvou a professora.

A mãe do aluno ficou retida na escola até a chegada da Policia Militar. A professora prestou queixa na Policia Civil. O aluno acabou sendo transferido para outra escola, segundo a professora.

A vítima passou por atendimento no Hospital do Servidor Público e foi liberada, com hematomas e um ferimento no olho. “Estou traumatizada, angustiada”, disse. A professora afirma estar com medo de novas agressões porque mora no mesmo bairro em que trabalha. “Vou passar uns tempos na casa do meu filho em Carapicuíba (Grande São Paulo)”.

A vítima da agressão, conhecida por todos como Gina, começou a trabalhar na escola David Nasser em 1990, como inspetora de alunos. Lá, também atuou como escriturária, até se tornar professora. Alunos e professores protestaram contra a violência e homenagearam a professora ontem.
A Secretaria da Educação afirmou que a professora ficará afastada por tempo indeterminado para se recuperar da agressão.

Segundo caso em 15 dias.
Outra professora foi espancada há duas semanas pela a mãe de uma estudante, em Salto do Pirapora (122 km de SP). A professora Sônia Maria Mendes, 48 anos, teve varias fraturas no rosto.

A agressão aconteceu quando a vítima saía do trabalho, na Escola Municipal João Fernandes de Andrade. A agressora atacou a vítima pelas costas, derrubando-a no chão e desferindo vários golpes no rosto dela. A docente precisou passar por uma cirurgia. A agressora disse que bateu na vítima pois a filha foi humilhada pela professora.

Em maio, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) condenou uma escola pública no Distrito Federal a indenizar em R$ 10 mil uma professora agredida por um aluno. O STJ afirmou que a escola deveria oferecer segurança à professora.

Resposta
Educação diz que o fato foi isolado.
A Secretaria de Estado da Educação afirma que lamenta a agressão sofrida pela professora.

A pasta manifestou solidariedade ao grupo de professores e alunos que fez um protesto ontem na porta da escola. A Educação informou ainda, por meio de uma nota, que uma equipe de supervisores vai até a unidade apurar a situação. A PM também deve reforçar a segurança.

A secretaria afirma que foi um fato isolado. "Por estar localizada em uma região de alta vulnerabilidade social, a secretaria já havia destacado um professor-mediador para trabalhar as atividades pedagógicas e as relações interpessoais da comunidade escolar a fim de prevenir conflitos". A agressora não foi localizada pela reportagem.
Comentário da Udemo
Por que será que essas coisas não acontecem com juízes, promotores, delegados de polícia, procuradores? Será que é porque eles revidariam? Será porque os agressores seriam presos no momento e no local? Será porque eles ainda têm o status, o prestígio e a autoridade que os professores um dia já tiveram?

E ainda se ouve, por aí, que educação é prioridade. Onde? Na China? Na Coréia? Na Dinamarca?
Que tal aprender com a colega do Distrito Federal: processar o Estado?!