sábado, 9 de julho de 2011

Os escritores e a Gramática I



Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
...
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Paulo Leminski, "O assassino era o escriba" in Caprichos & Relaxos, 1982


... qualquer classificação é opressora... toda a superfície do discurso ... é regida por uma rede de regras, de contingências, de opressões, de repressões mais ou menos pesadas ao nível da retórica, sutis e excessivas ao nível da gramática...
Roland Barthes, Lição, 1978


Pronominais*
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Oswald de Andrade, Pau Brasil, 1925
* O poeta canibal continua devorando os modernos e contemporâneos. Este seu poema faz pensar nas celeumas recentemente criadas em torno do livro do MEC sobre o ensino da nossa língua.

Homenageado da FLIP 2011, o poeta que funda a nossa modernidade foi assim lido por Antonio Cândido, ontem em Parati: "
Era um homem que tinha traços de gênio." Além de genial, Oswald é bastante sintático e afetivo. Como demonstra o Serafim Ponte-Grande: "Perdeu a sintaxe do coração e as calças."


Os adjetivos passam, e os substantivos ficam.
Machado de Assis, "Balas de Estalo" in Gazeta de Notícias,Rio de Janeiro, 1885

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